Educação contra o ódio

Tenho assistido com alguma preocupação e com muita pena a manifestações de ódio nas gentes do meu país.

Aumenta a violência doméstica, aumenta a ira racial, aumenta a guerra dos adeptos de futebol, aumenta a agressividade de quem defende os seus direitos e aumenta a tensão na nossa vida do dia a dia.

Aumentam os insultos políticos e a atitude persecutória de quem tem o poder.

Os jornais procuram as notícias que destroem vidas e o público procura excitado a queda dos seus eleitos.

É verdade que temos assistido a muitos casos de abuso de poder e a situações de apropriação do dinheiro público que, por ser de todos, deveria ser muito cuidado.

Temos visto governantes que ganham de onde não deviam, banqueiros que nos deixaram na pobreza, políticos que só se preocupam com o seu próprio provento, autarcas que se deixam seduzir por algum dinheiro e empreendedores que se aproveitam das fraquezas dos seus conhecidos.

Mas não é com o ódio que vamos melhorar a sociedade em que estamos a viver.

Não é batendo em quem está mais próximo que vamos resolver estes males.

Não é destruindo quem está nos lugares que seremos capazes de encontrar um caminho melhor para o nosso Portugal.

E não podemos continuar a seguir os arautos do justicialismo nem aqueles que apenas querem ganhar com as notícias da desgraça alheia.

Temos de voltar a criar um momento para pensar, para encontrar um caminho, para poder distinguir aquilo que é realmente inaceitável daquilo que é razoável.

Nos últimos dias assistimos a um dos casos que mais me deixou perplexo.

A comparação da indemnização da secretária de Estado, Alexandra Reis, com o prémio da CEO da TAP é um claro exemplo da loucura em que estamos a cair por não sermos capazes de avaliar as questões que se nos colocam e seguimos a opinião daqueles que mais alto gritam, como se fossem os donos da razão.

Comparar uma indemnização indevida com um prémio – que se recebe por tornar uma empresa que é um enorme problema numa fonte de resultado positivo – não tem qualquer sentido e mostra bem o absurdo do que estamos a discutir.

Podemos debater se um prémio é demasiado alto para o resultado que vamos obter, mas não podemos compará-lo a uma absoluta injustiça de uma indemnização que não tem qualquer justificação, que apenas beneficia o próprio e não traz qualquer benefício ao erário público.

Outro efeito pernicioso deste ódio que estamos a viver no nosso dia a dia é a forma como assistimos ao tratamento do tema da xenofobia.

O sofrimento que existe naqueles que, durante toda ou parte da sua vida, sofreram segregação ou qualquer penalização em resultado das suas origens é pura e simplesmente inaceitável; contudo, a promoção do ódio como forma de reivindicar o respeito não traz os resultados pretendidos.

Temos de encontrar outros caminhos.

É pela educação que devemos lá chegar.

É promovendo uma sociedade de respeito, em que os pais acreditam nos professores e não se propõem atacá-los apenas porque querem que os seus filhos sejam preferidos.

Promovendo líderes que se preocupam em levar mais longe o país sem se preocuparem tanto com os seus próprios interesses.

E, principalmente, promovendo um sistema de justiça que, funcionando bem, seja o garante de que todos compreendam que o crime verdadeiramente não compensa.

Artigo originalmente publicado em Diário de Notícias no dia 10/02/2023