
Ética, oposição e a falta delas
Sempre que ouvi falar da ética republicana fiquei com a sensação desconfortável de não compreender o que aquilo quereria dizer. Para mim a ética é só uma: tem características claras de defesa do bem comum, de respeito pelas pessoas e seus bens, de defesa daqueles que mais necessitam pondo sempre o interesse pessoal abaixo do interesse da comunidade.
Por outro lado, apesar de estar absolutamente certo de que todos os regimes políticos devem reger-se pelos conceitos éticos, não posso compreender que justificação possa haver para que se diferencie a ética republicana, da ética monárquica, da ética democrática, da ética da esquerda ou da ética da direita.
Ética é ética – e é só uma.
Ao longo destes últimos anos temos assistido a uma enorme quantidade de atos sem qualquer ética, praticados por pessoas com responsabilidade pública, quase todos absolutamente republicanos. Foram casos de abuso de confiança, abuso de poder, burla, peculato, corrupção ou mesmo roubo.
Em quase todos esses casos a estrutura onde se passaram tentou defendê-los de uma forma mais ou menos definitiva, e muitas vezes argumentando o respeito pela ética republicana.
Um conjunto de situações irregulares que envolvem a justiça, sempre com os escolhidos para ocupar os cargos de responsabilidade pela causa pública, tem um aspeto estranho de padrão de comportamento, de uma quantidade significativa dos membros de estruturas políticas, que tinham sido considerados irrepreensíveis no processo de escolha.
Por outro lado, criam uma sensação de preocupação de toda uma nação sobre as alternativas que lhe estão a ser oferecidas como potenciais responsáveis e líderes de uma sociedade que pretende ter a ética como elemento fundamental da sua constituição.
Se é a isto que chamam de ética republicana, então é essencial referir que essa não é a minha ética, nem aquela que toda a sociedade em que me incluo espera que seja seguida.
Utilizar a ética republicana como disfarce e cobertura para atos de falta de respeito pelo serviço público, atos de aproveitamento pessoal, atos de corrupção ou mesmo roubo, é nada mais que um ato antiético e verdadeiramente condenável.
Assim sendo, e chegados a esta triste situação que temos vivido, seria essencial esvaziar esse chavão cheio de orgulho vaidoso e de mentira e passar a tratar a ética não pela sua categoria política – que não a tem – mas pelas suas qualidades verdadeiras, humanas de respeito, de amor, de seriedade, de serviço aos outros e à sociedade, rejeitando e condenando o proveito indevido, o abuso de confiança, a mentira e o desdém por estes cidadãos portugueses a quem tudo devem e que nada dão.
Viva a ética verdadeira como fundamento da sociedade.
No meio de tantos acontecimentos extraordinários a que temos assistido, seja no que respeita ao governo, seja no que respeita às autarquias, seja ainda no que respeita à TAP, tornou-se muito óbvio que a oposição, na sua maioria, desapareceu.
Ouvimos o Dr. Rangel numa muito boa intervenção e ouvimos muito mais vezes o Dr. Nuno Melo por parte de um CDS que não está presente na Assembleia da República, mas não ouvimos o líder do PSD, não ouvimos a Iniciativa Liberal e ouvimos claramente, a assumir o papel de líder da oposição, o Dr. André Ventura que, com a sua veia de saber viver das oportunidades, aproveita bem esta que tão infantilmente lhe é disponibilizada.
E não é demérito seu fazê-lo, mas é triste que a oposição que deveria vir da direita se esgote e se veja representada por apenas uma das suas fações que, apesar de ter conquistado uma posição forte, não é a imagem de todos os que nesta ala política se revêm.
São oportunidades perdidas pelos partidos que se deviam apresentar ao eleitorado como alternativa e que deveriam aproveitar o momento para reforçar o crescimento de uma solução que verdadeiramente dê ao nosso país uma esperança de voltar a ser sério, respeitado, competente e que devolva aos cidadãos o orgulho de ser português.
Artigo publicado em Diário de Notícias no dia 13/01/2023