Incapazes ou apenas tolos?

Esteve na semana passada, em Luanda, o rei de Espanha, acompanhado de uma comitiva de empresários espanhóis com o propósito de desenvolver as relações económicas entre os dois países.

Não é a primeira vez que o país nosso vizinho faz uma promoção neste sentido.

Mais, foi este país o primeiro a ser visitado pelo atual presidente da República de Angola aquando da sua primeira eleição.

Para Portugal, este ato de promoção feito pelos espanhóis não deve ser descurado e deve mesmo merecer, por parte dos nossos governantes, uma tomada de consciência do que podemos perder, por sermos substituídos por outros países nas relações com os países de língua portuguesa.

A oportunidade que nos foi criada naturalmente, pela relação estabelecida através da partilha de uma cultura e de uma língua, pode estar a ser delapidada por não cuidarmos de desenvolver essa relação com um investimento proporcional que ela merece e que teria grandes resultados para o nosso desenvolvimento económico nos próximos tempos.

Até hoje, Portugal beneficia, com a exceção do Brasil, de um privilégio relacional com todos esses países e é o país estrangeiro com maior presença económica, social e cultural, nos seus mercados.
Tudo isto resulta de todo o investimento realizado a partir dessa cultura e dessa linguagem ao longo de centenas de anos e também dos apoios que foram sendo disponibilizados, seja na formação de quadros desses países, seja através dos investimentos culturais e educativos criados em cada um desses países.

Infelizmente, hoje assistimos a uma muito menor consciência por parte dos governantes portugueses na promoção desses apoios e sentimos que a preocupação com o imediato nas decisões das instituições do Estado tem vindo a prejudicar esses investimentos, que têm sempre características de longo prazo.

A inexistência de escolas portuguesas suficientes em cada um destes países; a falta de bolsas destinadas a albergar os seus alunos no nosso país; a falta de investimento em bibliotecas e projetos de desenvolvimento das populações; e a falta de atenção e passividade face às promoções de outros países, como esta que decorreu com Espanha, faz-nos correr o risco de perdermos primazia nas escolhas destes cidadãos da comunidade de língua portuguesa.

Na verdade, também todos sabemos que os nossos principais representantes partilham da ideia de que não devem criar viagens com comitivas empresariais e que devem ser as empresas a tomar a seu cargo a decisão de se deslocarem por si próprias para estarem presentes naquelas visitas.

Esta excessiva pureza de (pre)conceito, em que se pretende não promover relações entre os representantes do Estado e as empresas privadas, tem como resultado uma muito menor capacidade de influenciar a promoção da cooperação económica entre as empresas dos dois países e entre as instituições estatais e as empresas portuguesas.

A par disto, a falta de interesse em promover a criação de um espaço económico dentro da CPLP, a falta de compromisso dos governos em atribuírem meios financeiros ao Instituto Camões, a pouca disponibilidade de verbas para o envio de professores portugueses para estes países e a pouca atenção que estamos preparados para dar ao problema de atribuição de vistos aos cidadãos deste conjunto de Estados, está a diminuir todas as possibilidades de aumentar capacidade de exportação de produtos portugueses, que são o maior potencial de receitas e de retorno para os investimentos que podemos fazer a nível internacional.

Podemos decidir se queremos ser grandes e comprometer-nos a investir nesta comunidade que nos dará o caminho para crescer, ou apenas ir vivendo cada vez mais dependentes daquilo que nos queiram dar e que nos deixem fazer.

Não faz sentido estarmos a pedir na ONU que nos atribuam um espaço marítimo que faça de nós o 16.º maior país do Mundo e que, ao mesmo tempo, deixemos perder esta enorme oportunidade de nos desenvolvermos.

Artigo publicado em Diário de Notícias no dia 17/02/2023