
A internacionalização das PME portuguesas: a importância da informação
O dinamismo das exportações portuguesas dos últimos anos e a expansão para novos mercados foram fatores essenciais na recuperação da nossa economia face à crise financeira da última década. Este fato nunca teria sido possível sem a coragem dos empresários portugueses, especialmente daqueles que, à frente das nossas PME, assumiram o risco de procurar novos mercados para os seus produtos e serviços.
No momento de lançar esta página web decidi que a minha primeira reflexão devia centrar-se na questão do medo e da forma como este nos tem “governado”, enquanto país, durante os últimos anos. Considero fundamental alterar esta forma de sentir e pensar, negativa e receosa.
Não obstante, também reconheço que a mentalidade de muitos dos meus concidadãos está a mudar e que a coragem para enfrentar novos desafios está a manifestar-se em cada vez mais iniciativas. A aposta na internacionalização do tecido empresarial português é uma clara prova disso.
Na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP) somos testemunhas de uma procura crescente de apoio para os processos de internacionalização por parte das PME portuguesas. E desde o primeiro momento mantivemos um compromisso férreo em promover e contribuir para o mesmo.
Eu, pessoalmente, e todos nós na CCIP queremos que as nossas empresas estejam cada vez melhor preparadas para cumprir este novo desígnio, com a convicção absoluta de que as exportações nacionais transformaram o perfil da nossa economia e que as empresas exportadoras são um dos motores de desenvolvimento do país.
Neste sentido, num mercado tão globalizado e competitivo como o atual, uma das chaves fundamentais para o êxito é o acesso e a utilização de informação fiável. As empresas devem dispor de ferramentas apropriadas que lhes permitam ter acesso aos dados mais detalhados e precisos possível, assim como aos conhecimentos necessários para empreender e enfrentar um processo tão complexo como é o da internacionalização.
Por este motivo, na CCIP, em conjunto com o E-Monitor de Return on Ideas, e com o apoio da CGD, da MDS e da Yunit Consulting, promovemos a criação do Observatório INSIGHT, uma plataforma de informação e conhecimento que nos permite compreender a realidade das PME exportadoras portuguesas, identificando as principais tendências do mercado atual.
No ano passado apresentámos os primeiros dados, produto do trabalho do Observatório, materializados no Inquérito INSIGHT e, há algumas semanas, tornámos públicos os resultados da segunda edição. Este documento apresenta uma análise pormenorizada das várias dimensões que integram, atualmente, o processo de internacionalização das empresas portuguesas.
E, neste espaço, gostaria de sublinhar uma série de aspetos que, no meu ponto de vista, são extremamente reveladores do estado atual do processo de internacionalização do nosso tecido empresarial:
- A exportação é o modelo de internacionalização adotado pela maioria das PME portuguesas, com destaque para a exportação direta para clientes ocasionais.
- Nos finais de 2016, no primeiro Inquérito INSIGHT, as PME viam na internacionalização uma das principais alavancas de crescimento da sua atividade num contexto marcado pela contração do mercado interno. Em 2017 prevalece a visão de que este é o principal caminho de crescimento.
- A atividade internacional é considerada uma estratégia que gera resultados positivos na esmagadora maioria dos casos, com apenas 22% das empresas a afirmar que a atividade internacional é deficitária (especialmente porque ainda se encontra numa fase de investimento).
- Há um grande otimismo por parte dos gestores das empresas no que diz respeito ao crescimento da atividade internacional: 57% dos entrevistados afirmou que a sua atividade internacional cresceu de acordo com as expetativas em 2017 e a maioria das empresas internacionalizadas esperam que o volume de negócios internacional cresça em 2018.
- Este último aspeto foi acompanhado por um aumento do investimento na atividade internacional com o fim de melhorar o desempenho do negócio, especialmente no que se refere às estruturas internas das empresas.
- Os cinco mercados que mais contribuíram para o crescimento da atividade internacional são Espanha, França, Angola, Alemanha e Reino Unido, sendo os quatro primeiros mercados já conhecidos pela grande maioria das empresas.
- Contudo, também é claro que o crescimento tem por base a contínua capacidade de somar mercados, sendo que 45% das empresas inquiridas entraram em pelo menos um mercado novo em 2017.
- Verificou-se que quanto mais antiga é a atividade internacional das empresas – e maior a diversificação de mercados – maior é a percentagem de representatividade do negócio internacional no volume de negócios global das empresas.
- Para as empresas, grandes fatores de incerteza macroeconómica ou geopolítica (tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, crise na Catalunha, tendências protecionistas de Donald Trump ou o BREXIT) não são inibidores do investimento na internacionalização. Os condicionalismos identificados são mais de proximidade e referem-se àqueles que podem ter impactos concretos na tesouraria das empresas (reformas do IVA ou proposta do Orçamento do Estado).
- A continuidade, o tempo e a diversificação dos mercados são os fatores a ter em conta e a reforçar caso se deseje uma internacionalização bem-sucedida.
Todas estas dimensões dão conta da complexidade do processo de internacionalização e da necessidade sistematizar a informação existente. Só assim é possível compreender a realidade das PME internacionalizadas portuguesas, as suas atividades de internacionalização, as suas perspetivas de desenvolvimento futuro e, desta forma, fazer um uso estratégico deste conhecimento.
As empresas portuguesas já têm inscrito no seu ADN o processo de internacionalização. Devemos apoiá-lo, promovê-lo, e potenciá-lo para explorar ao máximo as oportunidades que se nos apresentem e projetar as nossas PME, e o nosso país, para o mundo.