Mensagem aos membros da UNIAPAC sobre audiência com o Papa Francisco

Cheguei no sábado, 6 de novembro de 2021 às 11h00 ao Palácio Apostólico do Vaticano. Fui recebido pelos mordomos que, passo a passo, me foram levando de sala em sala até à sala de espera imediatamente anterior ao seu escritório.

Aí fui recebido pelo Monsenhor Luis Maria Rodrigo Ewart que assiste a Sua Santidade e que muito simpaticamente me perguntou que língua eu iria utilizar, ao que eu respondi que seria o espanhol.

Fui então recebido pelo Santo Padre, de pé à entrada do seu escritório. Cumprimentou-me dizendo que já me tinha visto e cumprimentado no dia anterior, na cerimónia de abertura da Exposição inspirada na encíclica “Fratelli Tutti” na Biblioteca do Vaticano. E assim começou a nossa conversa.

Pediu-me para me sentar numa cadeira, muito perto da dele, em frente à sua secretária. Como eu não o fiz imediatamente e ainda estava de pé, insistiu e eu então sentei-me. Só então se sentou no seu lugar.

Comecei por me apresentar como presidente da UNIAPAC e disse-lhe que estava ali com uma mensagem dos empresários cristãos que queriam reafirmar o apoio às suas mensagens de apelo para transformar a nossa forma de pensar a economia em geral, e as empresas em particular.

Interrompeu-me de imediato para me dizer que foi alvo de muitas críticas pelas suas intervenções sobre economia, porque sempre falou da parte social de uma forma nem sempre consensual e foi criticado por isso. O Santo Padre disse-me então que só falava do que estava na Doutrina Social da Igreja e que tudo o que dizia em público passava sempre pelo Dicastério responsável pelas questões económicas.

Concordei com o Santo Padre e disse-lhe que esse era o nosso caminho e que não concordávamos com essa opinião. A UNIAPAC sempre defendeu os valores e princípios da Doutrina Social da Igreja e que era mesmo através do estudo destes princípios e valores que seguíamos o nosso caminho.

Trabalhámos na subsidiariedade, inclusão, participação, até que o Papa Francisco nos deu a Vocação Nobre. E então ficámos convencidos de que esta Nobre Vocação é verdadeiramente o Dom que recebemos, e que o nosso mérito reside na capacidade de obter um resultado nobre desta Nobre Vocação, que é a centralidade da pessoa humana.

Falámos da preocupação de mudar o modo de vida nas empresas, do artigo que escrevi em conjunto com a Confederação Europeia dos Sindicatos (ETUC) e da questão do salário digno. Dei a minha definição de salário digno, nomeadamente a capacidade de suportar o custo de vida, de pagar a educação dos filhos e ainda ter algo para investir no desenvolvimento pessoal, cultural, social e profissional de cada um, mas também a necessidade de se sentir parte da empresa e participar nas decisões que afetam a sua vida – da nossa preocupação com a capacidade das empresas se tornarem um veículo para a felicidade de todos aqueles que nelas e com elas trabalham.

Depois disse-lhe que era nossa intenção estar cada vez mais próximos da Igreja na preparação e discussão de questões económicas e empresariais e que estávamos completamente disponíveis para o acompanhar nestas questões. Também comentei com ele que precisávamos dessa proximidade porque queríamos servir cada vez mais como propagadores das mensagens do Santo Padre.

Sua Santidade disse-me então que para isso devíamos continuar o trabalho com o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.

Contei-lhe sobre o nosso congresso e a necessidade de poder contar com a sua presença junto dos empresários cristãos e das suas famílias para nos dar motivação e força para continuar. Transmiti-lhe que é muito importante contar com o seu impulso porque muitas vezes estamos confortáveis e sentados. Acrescentei que tê-lo connosco é muito importante para que também possamos explicar as suas mensagens ao mundo.

A proximidade e a intimidade aumentaram. Perguntei se lhe podia falar um pouco sobre mim. Concordou.

Contei-lhe que era presidente da UNIAPAC, da empresa Pinto Basto e da Câmara de Comércio Portuguesa. Que também sou pintor, ao que ele reagiu dizendo que isso lhe agradava e que esperava que eu pintasse a realidade. Respondi que sim e mostrei-lhe uma fotografia de um quadro. Disse que também escrevia uma coluna semanal para um jornal português e que a desta semana era dedicada a explicar a razão de cada Papa em cada momento na história recente da igreja, começando com o Papa Paulo VI e terminando com Francisco. Voltámos à questão da complementaridade dos Papas e ao criticismo nas mudanças na igreja.

Interrompeu-me e disse-me que há pessoas que não gostam dos seus ensinamentos e que têm dificuldade em aceitar o que tem feito. Respondi que as pessoas têm medo de mudar e que o medo é, infelizmente, o maior problema que temos nas nossas vidas, porque nos condiciona de uma forma terrível. Disse-lhe que as pessoas esperam sempre que um Papa seja igual ao seu antecessor e que isso nunca vai acontecer, que têm de ser feitas mudanças de vez em quando, e que na minha opinião tinha sido isso que o Papa Bento lhe pediu para fazer.

A sensação de intimidade, de falar com alguém que conheci toda a minha vida, cresceu ao longo desta conversa e neste momento era total. O Papa levantou-se para me entregar um livro “Let Us Dream: The Path for a Better Future?”, salientando a importância do desafiante terceiro capítulo. Um livro que merece muito a pena ser lido.

Nessa altura comentei que também eu tinha escrito um livro com o título “Do Medo ao Sucesso” mas que era em português e que por isso que não o tinha trazido. Pediu-me que lho enviasse. Senti que ele participava com prazer na conversa comigo. Foi extraordinário!

A conversa ia longa e tinha de sair sem perder a oportunidade que nos tinha sido dada, a mim e à Uniapac.

Então eu disse: não posso tomar mais do seu tempo mas gostava de lhe fazer dois pedidos? Disse que sim e perguntou quais eram. Pedi-lhe que enviasse uma mensagem aos empresários cristãos da UNIAPAC. Ele perguntou-me: e como vamos fazer isto? Eu retorqui: posso filmá-lo? Ao que me respondeu: Claro! E fizemos o filme onde ele enviou uma mensagem motivadora aos empresários sugerindo que escolhamos o Pai Eterno como nosso patrono e que, tal como Ele, poderíamos ser criativos. Que não deveríamos ter medo e que fizéssemos com as nossas empresas o que fazemos com os nossos filhos. Que devemos emergir desta crise juntos e melhores. Nós não sairemos desta crise sozinhos nem sairemos como éramos, que podemos tornar-nos melhores ou piores mas nunca ficaremos iguais.

Quando terminou, perguntou-me com um ar de diversão e suspeita: e o outro pedido? Pedi-lhe que me abençoasse, à minha família e a todos os membros da UNIAPAC e às suas famílias, bem como a todos aqueles que me acompanharam em espírito na minha visita ao Santo Padre.

E assim o fez. Já eram 11h40. Deveria ir-me embora. Agradeci-lhe os 40 minutos mais importantes da minha vida e coloquei-me ao seu dispor para tudo o que precisasse de mim e da UNIAPAC. Ele levantou-se, acompanhou-me à porta, e despedimo-nos como se fôssemos dois velhos amigos. Olhei para trás e estava a falar com o seu secretário, talvez a preparar a próxima reunião, ou talvez a comentar a nossa… foi assim que a sua imagem se desvaneceu, mas fiquei com o profundo sentimento de ter feito parte da sua vida e de ter tido a proximidade que apenas os mais íntimos esperam ter.

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