Um símbolo de Portugal (mas caro)

Fui recentemente à Irlanda.

Antes de reservar o bilhete de avião fui, como qualquer pessoa consciente, avaliar as alternativas possíveis.

Havia a possibilidade Ryanair, mas apesar de o senhor O’Leary nos ter assegurado, numa palestra que o convidei a dar na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, que agora já tinha percebido que o cliente realmente é muito importante, achei que não me apetecia viajar numa feira aérea ambulante, nem apanhar uma constipação naquela paragem de autocarro em que se apanha o avião dele, e desconsiderei a oportunidade.

Depois olhei a possibilidade da Air Lingus. A perspetiva era boa e sem a desvantagem de atrasar quase seguramente. Fiquei mesmo tentado.

Por azar, alguém me lembrou que esta companhia dentro da Europa funciona como uma low cost, e lá desisti da ideia.

Fui então parar à nossa TAP.

Com o risco de atrasar em todos os voos, mas com o aviso da companhia de que apenas a partir de 15 de novembro correria o risco de cancelamento de alguns destinos, decidi comprar uma executiva que, sendo bastante mais cara, me dava o acesso a um lounge para diminuir o peso desses atrasos.

E fiz-me ao caminho.

Ao sair de casa, cerca de duas horas antes da partida do avião, recebo uma primeira mensagem da nossa companhia nacional.

Achei que seria o anúncio da porta de embarque, mas não. Era o primeiro anúncio de que o voo estava atrasado e que só sairia cerca de uma hora e trinta minutos depois.

Como já estava no táxi, e era só uma hora e meia, segui e fui para a tal sala que o bilhete mais caro me possibilitava.

Quando cheguei, qual não foi o meu espanto ao ser informado de que o lounge estava em obras e que não poderia usufruir da razão da minha decisão, tão estudada e cuidada.

Perguntei como poderia aceder ao lounge da ANA, convencido de que haveria seguramente um acordo para a sua utilização enquanto decorressem as obras.

Mas a resposta foi óbvia. Só se tivesse o cartão dourado da TAP é que teria esse direito.

Eu não discordo de que o bom cliente da TAP deva ser bem tratado, mas que aquele que paga o bilhete por inteiro não seja incluído nesse tratamento, isso já me deixou muito descontente.

Entretanto o voo foi de novo atrasado, mas, como não tinha para onde ir, abandonado por aquela companhia que sentimos como parte da nossa identidade, fui para a porta de embarque.

Lá esperei as horas que passaram e, a cerca de vinte minutos da partida atrasada do avião, começam todos os passageiros a chegar mais perto da porta de embarque, cheios de vontade de finalmente partir.

E vem de lá de dentro do avião o funcionário responsável pelo embarque, com uma cara de quem perdeu família, pega no microfone e anuncia:

“O voo foi cancelado e já virá alguém dar-vos mais notícias sobre o tema”.

E veio outro funcionário dizer que poderíamos decidir: ou desistíamos do voo ou, em alternativa, que, se houvesse lugar, poderíamos embarcar no próximo voo, cerca de quatro horas depois.

Eu não podia deixar de ir e, por isso pensei, já correu tão mal que não pode piorar. E como quatro horas dariam apenas para sair, ir até casa, ficar uma hora, voltar ao aeroporto, decidi ficar.

Voltei a tentar o acesso ao lounge da ANA, ao qual consegui aceder pagando 36 euros, que a TAP não se dignou a pagar.

Acabei por apanhar o voo com um novo atraso de cerca de uma hora; como extra ainda ficámos cerca de meia hora embarcados, mas sem sair do lugar.

E cheguei cansadíssimo deste dia de viagem.

No regresso voltei a ter um atraso de cerca de hora e meia – e estive todo o tempo em stress por achar que iriam cancelar de novo o meu voo.

E, claro, a TAP é uma das pouquíssimas companhias que, na Irlanda, não dá direito ao lounge aos seus passageiros!!!

Digam lá se não é emblemática do nosso país esta companhia do coração que tanto temos lutado para que sobreviva…

bruno.bobone.dn@gmail.com

Publicado em Diário de Notícias no dia 09/12/2022